Um dano “cerebral”

A notícia veiculada na semana passada divulgando possível redução no orçamento da Capes resultou em choque e indignação para muitos brasileiros. O ofício da Capes destinado ao ministro da Educação, Rossieli Soares da Silva, indica que tal redução da verba destinada à ciência ocasionará a suspensão do pagamento de até 200 mil bolsas de estudo e pesquisa, atingindo bolsistas de mestrado, doutorado e pós-doutorado.

Paulo Iotti, Doutor em Direito Constitucional afirma que “Embora se possa discutir que áreas devem receber financiamento prioritário em tempos de crise, parece evidente que um percentual tão ínfimo de investimentos mostra um desinteresse na área de ciência e tecnologia”. Isso afeta drasticamente o modo como a pesquisa funciona no Brasil, sabendo que as bolsas tanto para a graduação como de pós-graduação já não são exorbitantes, e muitos trabalham em laboratórios em que nem sempre se tem o melhor reagente à disposição ou o equipamento mais avançado para o desenvolvimento da pesquisa, além do fato que muitos bolsistas necessitam de dedicação exclusiva aos seus projetos, não tendo oportunidade de outra fonte de renda.

Como consequência, embora os cortes de bolsas sejam do nível superior, toda cadeia de geração de conteúdo científico no Brasil seria comprometida caso concretizado o novo teto orçamentário. Adalberto Vieyra professor e diretor do Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem da UFRJ, membro da Academia Brasileira de Ciências constata que “Na prática, esses cortes significam a paralisação do sistema de ciência e tecnologia, do sistema de produção de conhecimento, da formação nos mais diferentes níveis. O aperfeiçoamento dos professores da educação básica vai parar. Todos os níveis da educação serão mortalmente atingidos”.

Após tornado público o ofício destinado ao ministro, muitos brasileiros se manifestaram tanto em redes sociais como nas ruas, não somente os com vínculo direto à Capes, mas professores e pesquisadores no geral. O impacto é grande, visto que muitos professores que lideram um projeto de pesquisa, mesmo que não sejam financiados diretamente pela Capes, necessitam do trabalho de outros pesquisadores, muitos cursando mestrado ou doutorado, bolsistas da Capes.

Já é constatado que muitos estudantes brasileiros buscam oportunidades em outros países em virtude da drástica redução no investimento em ciência brasileira dos últimos tempos, ficando isso conhecido como “fuga de cérebros”. A redução no investimento em ciência causa dano espantoso à esses “cérebros” e dificulta ainda mais a situação da educação no país.

Se os estudantes e pesquisadores podem ser considerados os “neurônios” da sociedade, a efetivação do novo teto reduzido é o não recebimento de energia por essas células tão importantes para o organismo. Sem energia destinada à tais células, tem-se o não funcionamento correto do todo. Sem investimento em pesquisa, tem-se a parada do crescimento científico, e assim concluindo um fracasso como nação.


Angelo Luiz Angonezi
Falaí Biotec




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