Bactérias condutoras de eletricidade: a chave para uma revolução tecnológica e imensos avanços médicos

Cientistas descobriram mais sobre como algumas bactérias que vivem no solo e sedimentos conseguem conduzir eletricidade. Essas bactérias o fazem, segundo o que os pesquisadores determinaram, através de uma estrutura biológica nunca antes vista na natureza - uma estrutura que cientistas podem manipular para miniaturizar componentes eletrônicos, criar baterias minúsculas, desenvolver marcapassos sem fio e muitas outras possibilidades no campo médico.



Até então, acreditava-se que a Geobacter sulfurreducens conduzia eletricidade através de estruturas comuns à bactérias, chamadas pili. Ao invés disso, um pesquisador da Universidade Médica de Virginia e colaboradores determinaram que bactérias transmitem eletricidade por meio de fibras extremamente ordenadas compostas por uma proteína completamente diferente daquela relacionada aos pili. Essas proteínas envolvem um núcleo de moléculas que contém metais em sua estrutura, assim como os cabos elétricos que contém fios metálicos. No entanto, esse "nanofio" é 100.000 vezes menor que a espessura de um cabelo humano.

Os pesquisadores acreditam que esta estrutura minúscula e organizada poderia ser extremamente útil desde o melhor aproveitamento de processos para geração de bioenergia até mesmo novas formas de limpar poluentes ou na criação de sensores biológicos. Poderia inclusive se tornar a ponte entre eletrônicos e células vivas.

“Existem muitos tipos de dispositivos médicos implantados que estão diretamente ligados ao tecido, como marcapassos com fios, e essa inovação poderia levar a aplicações com dispositivos minúsculos conectados através desses filamentos de proteínas.” diz Edward H. Egelman, doutorando da Universidade Médica de Virginia. “Podemos agora imaginar a ‘miniaturização’ de diversos dispositivos eletrônicos por meio de bactérias, o que é fascinante.”

As bactérias do gênero Geobacter desempenham papéis importantes no solo, incluindo reações com minerais e até mesmo ajudando na limpeza de resíduos radioativos. Elas são capazes de sobreviver em ambientes sem oxigênio, e utilizam esses “nanofios” proteicos para liberar elétrons em excesso no interior da célula, o que poderia ser considerado equivalente à respiração em outros organismos. Esses “nanofios” já fascinavam cientistas, mas somente agora que os pesquisadores da Universidade Médica de Virginia, Yale e Universidade da Califórnia, conseguiram determinar como a G. sulfurreducens utiliza esses filamentos orgânicos para transmitir eletricidade.

“A tecnologia para compreender o funcionamento desses filamentos não existia até uns cinco anos atrás, quando o avanço na área de microscopia crioeletrônica permitiu maior resolução”, afirma Egelman. “Temos um desses equipamentos na Universidade, e portanto, pudemos entender à nível atômico a estrutura dos filamentos. E este é apenas um dos vários mistérios que podemos resolver usando essa tecnologia”.

Egelman ressalta que ao entender a natureza, incluindo a menores escalas possíveis, cientistas e fabricantes podem ter muitos insights e ideias valiosas. “Um exemplo que vem à mente é a teia de aranhas, que é feita de proteínas, assim como esses ‘nanofios’, mas é proporcionalmente mais resistente que aço”, diz o doutorando. “Ao longo de bilhões de anos de evolução, a natureza promoveu a evolução de materiais que possuem características extraordinárias, e queremos aproveitar isso da melhor forma possível”.

Falaí Biotec

Traduzido e adaptado de:
University of Virginia Health System. "Electricity-conducting bacteria yield secret to tiny batteries, big medical advances: Researchers reveal amazing biological 'wires' of a sort never seen before." ScienceDaily. ScienceDaily, 04/04/2019. <www.sciencedaily.com/releases/2019/04/190404143747.htm>. Acesso em: 14/04/2019

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