Biotecnologia no Brasil



A Biotecnologia, apesar de ser uma ciência relativamente nova, tem demonstrado expressivo crescimento em nível mundial, o que também se aplica ao contexto brasileiro. Atualmente é considerada como uma atividade com potencial de desenvolvimento e com a capacidade de levar a significativos benefícios econômicos e sociais. 
A área possui notável importância no contexto atual para a promoção de ciência e novas tecnologias. No setor da saúde, por exemplo, é indispensável considerar o advento dos medicamentos biológicos que tem crescido progressivamente nos últimos anos. Quanto às culturas geneticamente modificadas, que foram responsáveis por elevadas produções de milho e soja, possibilitou a redução de perdas na safra, assim como a adoção de práticas mais sustentáveis. Dessa forma, além de menor impacto ambiental, a biotecnologia proporcionou maior produtividade e, consequentemente, melhorias na renda do agricultor. Além destes, muitos outros avanços só foram possíveis através da promoção de biotecnologia no país.
Tendo em vista tais particularidades, a ciência em análise tem se mostrado um setor estratégico e especialmente importante, considerando a tamanha biodiversidade encontrada em território nacional, o que permite muitas oportunidades a serem criadas e exploradas a fim de gerar novos negócios e soluções para a sociedade como um todo.
É interessante pontuar que, segundo dados de 2010 da Iniciativa Nacional de Inovação em Biotecnologia, o Brasil ocupava o 5º lugar entre os países que mais empregavam no setor. Infelizmente não foram encontrados dados atualizados referentes à situação atual brasileira comparada ao contexto mundial. Além disso, percebeu-se que o país demonstra um grande potencial quanto ao desenvolvimento e pesquisa em tal área, o que não necessariamente condiz com a incorporação desses conhecimentos em produtos e processos em escala industrial. Ademais, também é indispensável destacar a posição de líder do Brasil, em termos da bioeconomia, referente à pesquisa e produção de bioenergia, principalmente envolvendo etanol. 
Entretanto, deve-se ainda refletir quanto aos obstáculos que impedem o Brasil de ser reconhecido mundialmente por suas pesquisas e empresas. Isso está atrelado à burocracia de processos para a aprovação de solicitações, o que inclui autorizações de comitês de ética em pesquisa, acesso ao patrimônio genético nacional, autorizações estaduais e pedidos de patentes.
Em contrapartida, também é importante assinalar que o sucesso da biotecnologia no Brasil é dependente de um fortalecimento cooperativo entre setores acadêmicos e setores produtivos. O último, apesar de tímido em aspecto quantitativo, é considerado muito bem qualificado. Já o primeiro tem se mostrado forte em qualidade de pesquisa e recursos humanos, porém, com limitada interação com a sociedade.
No que se refere às empresas de atuação biotecnológica no país, foram analisados tais aspectos: A área que reúne maior número de empresas de biociências e biotecnologia brasileiras é a saúde humana, seguida de saúde animal, agricultura e insumos e reagentes. Elas, em sua grande maioria, são consideradas como micro e pequenas empresas e relativamente jovens. Quanto à distribuição geográfica, é perceptível uma concentração espacial nos estados de São Paulo e Minas Gerais, com alguns focos no estado do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Pernambuco.
As empresas de biotecnologia estão fortemente ligadas às universidades e a centros de pesquisas. Essas parcerias são extremamente importantes, pois possibilitam o desenvolvimento de conjuntos de produtos e processos, assim como a utilização da estrutura física das universidades, a contratação de estudantes e serviços especializados, além do licenciamento de tecnologias e treinamento de pessoal. Essas empresas, em pluralidade, recebem algumas formas de apoio público, como financiamento, fomento, isenções fiscais e demais incentivos provenientes de políticas públicas para o segmento, o que demonstra fortes articulações entre empresas, a esfera da ciência e o Estado, necessários para a vocação da atividade econômica referida. 
Além de tais abordagens, ainda é preciso ressaltar que o cenário vivido pela biotecnologia está correlacionado à ausência de conhecimento público e informações adequadas a este importante segmento. Acredita-se que a escassez de parcerias de colaboração estratégica entre empresas brasileiras de biotecnologia e grandes empresas nacionais está intimamente ligada a questões relacionadas à cultura. É explícito que há uma tendência popular à valorização do que se relaciona ao estrangeiro. Ademais, a jovialidade relativa das empresas do setor e a falta de conhecimento sobre a indústria de biotecnologia e seus potenciais parceiros são determinantes para a continuação do cenário em que a biotecnologia se encontra. 
Dessa forma, conclui-se que a Biotecnologia, mesmo tendo um incrível potencial para ajudar a resolver muitos problemas da sociedade, ainda é ignorada e desconsiderada socialmente. Isso, de certa forma, demonstra um impacto na propagação de ciência vinculada à àrea, na colaboração ao âmbito profissional que ela é capaz de proporcionar e na contribuição sócio-cultural atrelada ao seu desenvolvimento.

Referências
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INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (INPI). Biotecnologia segundo a Classificação Internacional de Patentes. Rio de Janeiro: 2018.
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