A produção de Cacau no mundo: qual o futuro?

Natural da Bacia Amazônica, o cacau é o fruto originário do cacaueiro (Theobroma cacao), planta da família das Malvaceae. Seu cultivo é difundido em diversas regiões do mundo, tendo produções de aproximadamente 4 milhões de toneladas no ano de 2016. O cacaueiro é cultivado por cerca de 6 milhões de fazendeiros no mundo todo, sendo que cerca de 40 milhões de pessoas dependem dele como fonte de renda. O continente de maior produção é a África, com aproximadamente 74% (2.92 milhões de toneladas) da produção do mercado no período de 2015/16 (de acordo com a ICCO - International Cocoa Organization).

O fruto é utilizado em diversas indústrias, como cosmética e farmacêutica, mas é na alimentícia que ele se destaca. No ano de 2015, o mercado global de chocolate faturou 101 bilhões de dólares (aproximadamente 404 bilhões de reais) e a estimativa é que este cresça cerca de 13% ao ano.
Segundo a World Cocoa Foundation, a demanda por cacau está aumentando cerca de 3% ao ano, mas sua produção já está em alto risco, e podemos experienciar uma falta de cacau em 2020. É estimado que aproximadamente 30% da produção mundial de cacau seja perdida devido a pestes e doenças. Uma das doenças mais recorrentes é o vírus do broto inchado do cacau (CSV) (Muller, 2016), que é transmitido em grande parte por cochonilhas.
As mudanças climáticas também corroboram o quadro crítico de escassez futura. Se a variabilidade prevista do clima e do tempo continuar, isso pode ter um impacto sobre a situação econômica dos produtores de cacau. Como resultado, a indústria global de chocolate e confeitaria será a mais prejudicada. A criação de variedades de cacau resistentes à variação do clima é de vital importância para a sustentabilidade da produção de cacau a longo prazo.
Tendo em vista os problemas climáticos, bem como as doenças, confluindo para uma perspectiva negativa sobre o produto, variedades de maior produção e, ao mesmo tempo, adaptadas aos problemas citados anteriormente, são a salvação do cacau. Apenas uma espécie é produtora de cacau (T.cacao), sendo três grupos genéticos largamente utilizados: Criollo (T. cacao Criollo), Forastero (T. cacao Sphaerocarpum) and Trinitario (Pridmore et al., 2000). O tipo Criollo é bem conhecido por seu sabor superior, além de fornecer a matéria-prima a partir da qual são produzidos chocolates de sabor fino, o que representa 5% a 10% da produção mundial de chocolate (Rusconi e Conti, 2010). Em contrapartida, a maior parte da produção mundial de chocolate (aproximadamente 80%) vem do tipo de cacau Forastero, pois essa variedade é preferida ao Crioulo por sua natureza resistente a doenças e alto rendimento, e os grãos dessa variedade são relativamente mais baratos que os do tipo Criollo (Rusconi e Conti, 2010). O terceiro grupo genético, Trinitario, é um híbrido produzido a partir dos cruzamentos entre as variedades Criollo e Forastero. Esta variedade foi inicialmente desenvolvida em Trinidad, e hoje é cultivada em muitas partes da América do Sul e Central, África, Sudeste Asiático e Oceania por seu aroma, produtividade e caráter resistente a doenças.
    A presença da biotecnologia como fronteira de pesquisa para melhorar o panorama alarmante a respeito do futuro do fruto passa a ser essencial. A introdução de genes de resistência a doenças virulentas e fúngicas, bem como a manutenção de linhagens maleáveis ao clima, promete salvar o cacau desta crise eminente. Um bom exemplo é o estudo conduzido por Maximova et. al. (2006), onde foi produzido plantas de cacau transgênico expressando mais o gene da quitinase classe I do cacaueiro (TcChil1). Estas plantas transgênicas apresentaram resistência aumentada a patógenos fúngicos contra Colletotrichum gloeosporioides, ou seja, resistentes à doença Antracnose, uma das doenças mais recorrentes no cacau cultivado na América.
    Apesar de estudos serem conduzidos, pouco se tem explorado devido ao baixo investimento (apenas fomentado por empresas particulares). O futuro do cacau geneticamente modificado (transgênico) depende do fomento à pesquisa em busca de melhorias. Este é um exemplo claro de como a biotecnologia é fundamental para a resolução de problemas de demanda agrícola no mundo.

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