Entrevistas: Prof. Felipe Maraschin

A partir de hoje, o blog do Falaí conta também com entrevistas com pesquisadores! Essa nova modalidade de textos de divulgação do nosso blog, além da já conhecida tradução de notícias, bem como os artigos a respeito da Biotecnologia no Brasil e no Mundo, vem para mostrar a percepção de professores e pesquisadores a respeito da Biotecnologia, e da importância de se fazer ciência.
                
Para estrear essa nova modalidade, nosso primeiro entrevistado é o professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Felipe Maraschin, que atua na área de Biotecnologia, Fisiologia e Genética Vegetal.

Um de seus projetos envolve o estudo de como a luz incidente nas folhas de plantas afeta o crescimento das raízes. "Sabe-se que a luz impacta drasticamente as raízes, mesmo estas estando enterradas abaixo do solo, o que sugere que sinais químicos devem viajar dentro da planta para ativar o crescimento das mesmas". Outro projeto em que o professor Maraschin está envolvido busca a obtenção de variedades de arroz que acumulem maior quantidade de minerais como Ferro e Zinco, essenciais para o desenvolvimento saudável, e cuja falta pode provocar anemia e desnutrição. "Para isso precisamos entender como as plantas transportam esses elementos do solo para as sementes e tentar descobrir como melhorar esse processo". Outro projeto está relacionado ao desenvolvimento de técnicas baseadas em vetores virais para a obtenção de plantas de macieira resistentes à doenças fúngicas e também com menor necessidade de frio para a frutificação. Além disso, expõe o impacto de suas pesquisas, com relação à diminuição no uso de água e fertilizantes ao se conhecer melhor o desenvolvimento vegetal, a possibilidade que grãos de arroz fortificados possuem de diminuir as taxas de anemia, e como o desenvolvimento de variedades de macieiras resistentes poderia eliminar o uso de fungicidas, além da possibilidade de plantio em outras regiões do país e do mundo, em diferentes condições climáticas.

Quando questionado sobre a importância da Biotecnologia na ciência, o professor responde que "a Biotecnologia é uma ciência de soluções" e que ela "busca no conhecimento que temos sobre os processos biológicos, químicos e físicos, a geração de soluções a demandas específicas da sociedade". Ressalta sobre a finitude dos recursos naturais que até pouco na história da humanidade foi encarada com preocupação, e que nem todas as soluções do passado se aplicam no cenário atual. No entanto, acredita que com a aplicação do conhecimento científico podem ser geradas soluções inteligentes para os desafios que uma população crescente pode oferecer.

Quanto à importância de se fazer ciência, expõe como os avanços tecnológicos das últimas décadas e séculos permitiram com que chegássemos onde chegamos como humanidade. "Olhe ao seu redor, como você está lendo este texto? Provavelmente numa tela de um computador ou num telefone que recebeu os dados pela web. Nada disso existia 30 anos atrás. É só pensarmos no que a humanidade tinha 2000 anos atrás e no que tem hoje. Absolutamente tudo que conseguimos na história que nos fez evoluir e chegar até aqui é produto direto da inovação científica e tecnológica." Comenta também sobre como esses avanços possibilitaram o aumento na expectativa e qualidade de vida, bem como o aumento populacional.

Já quanto à importância da divulgação científica, aponta que a sociedade como um todo desconhece a realidade do fazer científico. "As pessoas são tão alienadas à ciência que elas pensam que ela ocorre num mundo paralelo, que em algum lugar existe um cientista em um laboratório empoeirado fazendo experimentos obcecadamente como um nerd sem rumo produzindo descobertas que só servem para outros cientistas, e que dinheiro público foi desperdiçado nessa 'brincadeira'." Comenta também que desfrutamos de milhares de avanços científicos no nosso cotidiano, sem nos darmos conta de que isso foi resultado de inúmeras pesquisas, e como exemplo o que consideramos hoje como um 'simples' exame de sangue, desde o tubo onde é coletado, até a forma como seu médico recebe esses resultados de maneira rápida e eficiente, são fruto de incontáveis artigos publicados por centenas de cientistas do mundo todo. "O simples fato de chamar um transporte por aplicativo envolve a coordenação de sinais de satélites, sensores de GPS, triangulação matemática, processamento de dados que quem não sabe como acontece acha muito normal poder visualizar num mapa georeferenciado no seu smartphone quanto tempo irá demorar para o motorista chegar.”

Além disso, comenta que "Talvez a divulgação científica falhe em fazer o público saber que há ciência em tudo, e que o trabalho para se chegar até ali foi árduo e maravilhoso. Todos adoram aproveitar a tecnologia sem ter ideia de como ela foi tornada possível. Creio que sim, precisamos levar o encantamento que o cientista tem com a descoberta para o grande público."

No que diz respeito ao futuro da Biotecnologia, Maraschin acredita que ela se tornará cada vez mais aceita e entendida pelo público, ao passo que as pessoas entenderem melhor o que ela faz. "As tecnologias que dispomos hoje colocarão a Biotecnologia no centro da inovação tecnológica." Também ressalta que sua principal preocupação é com relação à “exploração da tecnologia para caminhos não sustentáveis e que visem o lucro acima do bem comum”, mas que essa é uma preocupação sua, "desde governos à formulações de iogurtes".


Falaí Biotec

Agradecimento especial ao professor Felipe Maraschin, que aceitou nosso convite para participar da entrevista.

Nós do Falaí Biotec acreditamos que a divulgação da ciência com vista a aproximar as pessoas do fazer científico é fundamental para progredirmos, na ciência e consequentemente como sociedade.


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