Entrevistas: prof. Henrique Bunselmeyer Ferreira

Nesta semana o entrevistado foi Henrique Bunselmeyer Ferreira, professor titular do Departamento de Biologia Molecular e Biotecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e pesquisador no Centro de Biotecnologia da mesma instituição. É graduado em Ciências Biológicas, possui Mestrado e Doutorado em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS, e Pós-doutorado no Albert Einstein College of Medicine. Sua linha de pesquisa envolve o estudo de interações entre patógenos e hospedeiros mamíferos a nível molecular, em doenças parasitárias causadas por helmintos e micoplasmas.

"A biotecnologia é hoje uma área de interface, funcionando como elo entre diversas áreas do conhecimento (biologia, física, química, informática etc.)”

Leia a entrevista completa abaixo!

- Qual é sua linha de pesquisa?

Meu grupo de pesquisa atua na área de biologia molecular e tem várias linhas de pesquisa em andamento. Mas, essencialmente, todas as linhas de pesquisa desenvolvidas são voltadas ao estudo de interações entre patógenos e seus hospedeiros mamíferos em nível molecular. São utilizados como principais modelos para estudo algumas doenças parasitárias crônicas humanas causadas por helmintos, como as equinococoses, e infecções respiratórias agudas de suínos causadas por micoplasmas. As linhas de pesquisa desenvolvidas utilizam desde métodos de clonagem molecular e sequenciamento de DNA, expressão heteróloga de proteínas recombinante e ensaios funcionais bioquímicos e imunológicos até abordagens transcritômicas e proteômicas.

- Qual o impacto de sua pesquisa?

A identificação, quantificação e caracterização funcional e imunológica de proteínas que estão presentes nas interfaces entre os patógenos e suas espécies hospedeiras permitem identificar fatores de virulência e outros determinantes de patogenicidade e ajudam a elucidar os mecanismos moleculares necessários para infecção e o desenvolvimento do patógeno ou para sua eliminação por parte do hospedeiro. Tais conhecimentos permitem identificar antígenos, para utilização em imunodiagnóstico e/ou para o desenvolvimento de vacinas, e também proteínas-alvo para o desenvolvimento de novos fármacos para tratamento das parasitoses e outras infecções estudadas. Por exemplo, já foram desenvolvidos por nós testes baseados em antígenos recombinantes para imunodiagnóstico da equinococose cística humana e formulações vacinais recombinates contra a pneumonia enzoótica suína (causada por Mycoplasma hyopneumoniae).

- Qual a importância da Biotecnologia na ciência?

Mais do que na ciência, a Biotecnologia tem impacto na sociedade como um todo. A aplicação tecnológica de organismos vivos ou produtos deles derivados tem acompanhado a humanidade desde os seus primórdios. Há, por exemplo, registros de processos de fermentação para a produção de alimentos que datam de cerca de 6.000 anos A.C. e, até hoje, produtos e processos são facilmente e cada vez mais identificados nas áreas alimentícia, farmacêutica e médica, entre outras. A biotecnologia é hoje uma área de interface, funcionando como elo entre diversas áreas do conhecimento (biologia, física, química, informática etc.). Com contribuições de todas estas áreas, a biotecnologia está em evidente expansão e seu potencial para a geração de novos e melhores produtos e processos aplicáveis a setores como a medicina e a agricultura, por exemplo, são enormes.

- Qual a importância de se fazer ciência?

É a ciência que nos permite buscar sistematicamente conhecimentos que nos ajudam a entender como funciona a natureza, desde os processos físicos e químicos até a biologia e a evolução. Tais conhecimentos, ao serem devidamente gerados, interpretados e aplicados, contribuem sobremaneira para o bem-estar e o desenvolvimento da humanidade como um todo. Com eles, torna-se também possível o estabelecimento de interações produtivas dos seres humanos com outras espécies e com o meio ambiente, levando em conta preceitos de sustentabilidade e de preservação.

- Comente sobre a importância da divulgação científica.

Ciência é conhecimento e todo o conhecimento científico deve ser disseminado. A divulgação deste conhecimento no meio científico impulsiona novos avanços em ciência básica e aplicada. A divulgação do conhecimento científico de forma acessível à compreensão do público leigo é, por sua vez, essencial para que a sociedade entenda, assimile e valorize os avanços tecnológicos à medida em que eles vão surgindo. Conhecendo tais avanços, a sociedade como um todo poderá demandar o acesso aos benefícios por ele proporcionados.

- Como você vê a Biotecnologia no futuro?

Com a progressiva evolução do conhecimento, a Biotecnologia tem contribuído cada vez mais para a melhora da qualidade de vida humana e do ambiente. A biotecnologia é hoje fundamental nas indústrias alimentícia e farmacêutica, entre outras, e produtos e processos biotecnológicos são já comumente utilizados no melhoramento genético animal e vegetal, na biorremediação ambiental e no controle biológico de pragas. São ainda hoje perspectivas concretas para a biotecnologia a terapia gênica; a utilização terapêutica de células-tronco; a medicina personalizada baseada em farmacogenômica; o desenvolvimento de biomateriais e processos para a produção de tecidos e órgãos artificiais; e o uso da biologia sintética para o redirecionamento ou construção de novas rotas metabólicas ou para a criação de organismos artificiais.

Falaí Biotec

Agradecemos ao professor Henrique Bunselmeyer Ferreira, por ter aceitado nosso convite para participar na entrevista.

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