Cientistas desvendam o código do CRISPR para edição genética precisa
Cientistas do Instituto Francis
Crick descobriram uma série de regras simples que determinam a precisão do
sistema de edição genética CRISPR/Cas9 em células humanas. Estas regras,
publicadas na Molecular Cell,
poderiam melhorar a eficiência e segurança de edição genética, tanto
laboratorial como clínica.
Referências:
Traduzido de:
Apesar do amplo uso do sistema CRISPR,
a aplicação racional da tecnologia foi impedida pela suposição que existe
possibilidade de consequências imprevisíveis, resultando em deleções ou
inserções randômicas de DNA na região alvo, ou ainda fora da região alvo (off-targets).
Antes que CRISPR possa ser
aplicado em uso clínico, cientistas precisam ter certeza que é possível prever
com segurança e precisão de que maneira o DNA será modificado.
“Até o presente momento, a edição
genética com CRISPR envolveu muitas suposições, frustrações e tentativa e erro.”
diz a líder do grupo envolvido no estudo, Paola Scaffidi.
“Pensava-se que os efeitos do
CRISPR eram imprevisíveis e aparentemente aleatórios. No entanto, ao analisar
centenas de edições ficamos surpresos ao descobrir que existem padrões simples,
previsíveis, por trás de tudo. Isso mudará fundamentalmente o modo como usamos
CRISPR, o que nos possibilita estudar o funcionamento dos genes com maior
precisão, acelerando significativamente os avanços científicos.”
Ao examinar os efeitos da edição
genética utilizando CRISPR em 1491 regiões alvo em 450 genes de células
humanas, a equipe descobriu que os resultados podem ser previstos com regras
relativamente simples. Essas regras dependem majoritariamente de uma “letra”
genética (base nitrogenada), ocupando uma posição específica na região
reconhecida pelo RNA guia que direciona a “tesoura molecular”, Cas9.
RNA’s guia são moléculas
sintetizadas contendo em torno de 20 pares de bases (representados pelas letras
A, T, C ou G) projetadas para se ligarem à uma região específica de DNA no
gene alvo. Cada “letra genética” possui um par complementar (A se liga a T, G
se liga a C). O RNA guia serve como uma espécie de Velcro, que se liga à
sequência correspondente das suas “letras”.
Guiado pela molécula de RNA, a
enzima Cas9 “examina” o genoma até achar a região de interesse. Quando o RNA
guia “encontra” sua sequência complementar, ele se liga à ela, a Cas9 corta um
segmento de DNA. O DNA é “quebrado” a três letras de distância do fim da sequência
alvo, e partes do código genético são então inseridas ou deletadas, aparentemente
ao acaso, quando a célula tenta reparar o dano no DNA.
Neste estudo, os pesquisadores
descobriram que o resultado de uma edição genética depende da quarta letra a partir
do final da sequência de RNA guia, adjacente ao local de “corte” de DNA. A equipe
descobriu que se a “letra” for A ou T, haverá uma inserção genética muito
precisa. Um C levará à deleção relativamente precisa e G leva a inúmeras deleções
imprecisas. Portanto, evitar sítios que contenham G como quarta “letra”
distante do local de corte, levaria a edições genéticas muito mais previsíveis.
“Ficamos surpresos ao descobrir
que as regras que determinam o resultado de edições genéticas em células
humanas utilizando a tecnologia CRISPR eram tão simples” diz Dr. Anob Chakrabarti,
pesquisador PhD da Wellcome Trust no laboratório de Bioinformática e Biologia
Computacional do Instituto Francis Crick e um dos autores do estudo.
“Ao levar em conta essas regras
quando projetando RNA’s guia, podemos maximizar as chances de obter o resultado
esperado de uma edição genética específica – que é particularmente importante no
contexto de uso clínico da tecnologia”.
A equipe também ressaltou que o
quanto “aberto” ou “fechado” está a região de DNA alvo também afeta o resultado
da edição. A adição de componentes que forcem a “abertura” de DNA – permitindo que
a Cas9 examine o genoma – leva a edições mais eficientes, que poderiam ajudar
quando as modificações a serem realizadas ficam em regiões mais “fechadas” de
DNA.
“A boa notícia é que independente
da origem do tecido – que influencia o quão ‘aberto’ está o DNA em certos genes
– regiões alvo contendo A ou T na posição chave demonstram edição semelhante”
afirma Paola. “Isso significa que, se selecionarmos com cuidado o DNA alvo, podemos
ter certo grau de confiança que teremos os mesmos resultados em diferentes
tipos de tecido.”
Josep Monserrat, doutorando do
Instituto Francis Crick no Laboratório de Epigenética em Câncer e primeiro
autor conjunto do estudo diz que: “Não tínhamos, até então, estimado a importância
da ‘abertura’ do DNA ao determinar a eficiência de edição genética usando
CRISPR. Isso poderia ser um outro fator a ser considerado quando se busca a
edição de um gene de maneira específica. Estamos empolgados em observar que
tipos distintos de células compartilham edições comuns em regiões-alvo
precisas, e esperamos que a tradução de nossas descobertas seja benéfica em
todas as disciplinas.”
Falaí Biotec
CHAKRABARTI,
Anob M. et al. Target-Specific Precision of CRISPR-Mediated Genome Editing. Molecular
Cell, [s.l.], p.1-15, dez. 2018. Elsevier BV.
http://dx.doi.org/10.1016/j.molcel.2018.11.031.
Scientists
crack the CRISPR code for precise human genome editing. The Francis Crick Institute, 2018.
Disponível em: <https://www.crick.ac.uk/news/2018-12-13_scientists-crack-the-crispr-code-for-precise-human-genome-editing>
Acesso em: 16/12/2018
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